segunda-feira, 25 de julho de 2011

Um novo cântico

Conheça o autor do DVD Salmos, lançamento que transforma em música alguns dos trechos mais inspiradores da Bíblia

Por Wendel Lima

Conheci Daniel Lüdtke (@danielludtke) no tempo em que estudamos Teologia e Jornalismo no Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp). E em pouco tempo ficou claro que a criatividade do Lüdtke, com o texto e a música, poderia resultar num ministério diferenciado, que atenderia as necessidades espirituais da geração atual.

Hoje, depois de ter trabalhado como capelão escolar e pastor distrital em Alagoas, Lüdkte se dedica à pastoral universitária da Faculdade Adventista da Bahia (antigo Iaene), em Cachoeira, a 133 km de Salvador. Lá, sua leitura da espiritualidade dos jovens, o tem levado a liderar diversos projetos humanitários com os alunos. O último deles foi uma expedição à Ilha do Bananal, TO, uma iniciativa em favor dos índios karajás (voluntariosiaene.blogspot.com).

Agora, com o lançamento do DVD Salmos, na semana passada, milhares de pessoas poderão ser beneficiadas com os dons que Deus tem confiado ao pastor Daniel Lüdtke. A produção, com o selo da gravadora Novo Tempo, traz 11 músicas baseadas em capítulos da Bíblia, além de CD com áudio, partituras para vocal e cifras, slides com as letras das músicas, making of e uma mensagem bíblica com o Dr. Rodrigo Silva. O DVD foi produzido por Ricardo Martins, pianista do quarteto Arautos do Rei, e conta com a participação de cantores conhecidos no vocal: Riane Junqueira, Vagner Dida, Douglas Polheim, Marcelle Fonseca e Marla Lüdtke.

Nessa entrevista, concedida por e-mail, Daniel Lüdtke conta como se sentiu chamado para musicalizar trechos de um dos livros mais inspiradores da Bíblia e como esse DVD pode ajudar a revitalizar o canto congregacional.

De onde e desde quando vem seu gosto pela música?

Em minha família, todos tocam pelo menos um instrumento. O culto familiar em casa sempre foi um momento de festa – tocávamos e cantávamos quase todo o hinário (risos). Desde a infância, eu também fazia duetos com minha irmã nas igrejas. Aos oito anos comecei a compor minhas primeiras músicas. E nesse DVD escrevi todas as músicas, baseadas em Salmos 63, 91, 51, 32, 119, 149, 113, 3, 16, 40 e 27.

Poucos pastores têm a oportunidade de unir no seu ministério a pregação e a música. No que essas duas linguagens divergem e convergem para a proclamação do amor de Deus?

Essas são duas ferramentas muito fortes. Elas convergem no aspecto em que são canais que ligam Deus ao coração das pessoas. Contudo, vejo a pregação sendo algo mais racional e a música falando mais aos sentimentos. É um casamento perfeito. O sábio uso dessas ferramentas é de grande valor, se dirigidas pelo Espírito Santo.

A musicalização da Palavra de Deus era algo comum nos tempos bíblicos, os Salmos são prova disso. Qual é a importância de resgatarmos esse recurso no cristianismo contemporâneo?

Tenho gravado em minha memória o que está escrito em 1 João 4:8 por causa de uma canção que aprendi quando criança: “Aquele que não ama, não conhece a Deus.” A música fica na memória. Em momentos específicos, como tentação ou dor, essas mensagens vêm à mente e ao coração. Deus usou isso amplamente, imprimindo na mente do povo de Israel suas leis, feitos e esperança por meio dos cânticos. Como diz Salmos 119:11: “Escondi tua palavra no meu coração, para não pecar contra ti.” Precisamos usar mais a Bíblia em nossas músicas. Isso é importante porque fará nossa atenção se voltar para a Palavra de Deus e tornará nossa adoração mais rica e inspiradora.

Por que você optou pelos Salmos como texto base para as músicas? Qual é teu preferido? Que sentimentos positivos e negativos eles expressam?

Na verdade, eu não escolhi o livro de Salmos. Posso dizer que, literalmente, o Senhor escolheu. Enquanto eu orava pedindo compreensão para entender o livro de Salmos, que começaria a ler em meu momento de devoção pessoal, ouvi claramente Deus dizendo em minha mente: “Faça músicas com esses salmos.” Foi assim que tudo aconteceu. Eu não sabia no que isso iria resultar.

Quanto aos sentimentos expressos pelos salmos, posso dizer que são os mais abrangentes possíveis. Há salmos de gratidão, de louvor, de súplica, pedindo perdão, livramento e direção. Em qualquer situação em que você se encontrar, sempre haverá um salmo adequado para sua circunstância.

No DVD, minha música preferida é Escudo, baseada em Salmos 3. A letra é muito forte. Davi a escreveu quando fugia de seu filho Absalão, que pretendia matá-lo e roubar o trono. Essa música reflete a confiança num Deus que controla nossa vida.

Qual é tua referência para as melodias?

Gosto muito de ouvir músicas americanas do gênero acústico. Elas são modernas, sem serem agressivas. Essas referências, com certeza, influenciaram a linha melódica das músicas. Elas são simples, fáceis de decorar e ficam na cabeça.

Alguns têm dito, que a Igreja Adventista no Brasil tem historicamente valorizado a produção musical de quartetos, solistas, conjuntos e corais, mas tem deixado certa lacuna quanto ao canto congregacional. Você também enxerga assim? Acha que seu DVD pode ser uma contribuição nesse sentido?

A música congregacional tem que ser prioridade. Ponto final. Temos criado muitas “estrelas” no meio musical cristão, mas temos desenvolvido pouco o canto nas igrejas. É triste ver como na maioria dos templos o momento do louvor é frio, feito sem organização, sem ensaio, muitas vezes apenas para “tapar buraco”. “Alguma escolha?” é geralmente uma expressão que oculta a falta de preparo por parte do líder do louvor. Do fundo do coração, espero que essas músicas venham enriquecer a adoração em nossas igrejas.

Hoje, vivemos um momento de reflexão sobre a teologia da adoração. Há uma tensão entre os que defendem um estilo mais tradicional e outros que preferem algo mais contemporâneo. O que você acha que precisamos para reavivar o louvor da igreja? O quanto desse reavivamento depende de contextualização da liturgia e o quanto depende de reconsagração dos cristãos?

Primeiro precisamos de organização. Isso é subentendido na adoração do Antigo Testamento. Mesmo as músicas mais antigas, se bem ensaiadas pelo grupo vocal, com instrumentistas ao vivo (precisamos disso!), e ministradas com espírito de adoração, levarão os adoradores para perto de Deus.

Em segundo lugar, devemos ser menos críticos. Dizemos: precisamos de equilíbrio – o problema é que ele geralmente não agrada nenhum dos dois lados. Nem podemos “canonizar” os hinos do passado como hinos do céu (só lembrando que boa parte das melodias do nosso hinário é popular ou cívica), nem achar que tudo que tem o nome “Deus” pode ser trazido para o culto na igreja. Esse discernimento é fruto de uma vida de oração e entrega.

O terceiro ponto é: precisamos cantar em espírito e em verdade. Obviamente, o louvor será sincero e genuíno quando vier de lábios que buscam o Senhor acima de todas as coisas. Precisamos de reconsagração. Vários fatores são necessários para que isso ocorra. Mas garanto que um louvor bem dirigido e centrado em Deus será um dos desencadeadores dessa mudança. Uma coisa leva à outra! Assim, posso dizer: precisamos cantar mais com o coração. Grandes milagres surgirão quando isso acontecer.

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