quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Big Besteirol Brasil

O segredo do sucesso dos reality shows e o que se espera dos cristãos

Trabalhei numa empresa multinacional, com faturamento anual de 1 bilhão de reais e que empregava 2 mil funcionários apenas no Brasil, e que não foi páreo para um personagem criado há poucos anos pela telinha. Explico. Num belo dia, estava na área de Customer Care (área em que trabalhavam só mulheres), para solicitar a uma usuária chave me disponibilizar algumas informações em caráter de urgência, pois havia um caminhão carregado de nossos produtos “presos” na recepção de um dos chamados Key Accounts (grandes clientes), por inconsistência de informações. De repente, outra garota chegou esbaforida, dizendo: “Gente, adivinha quem está lá embaixo, no prédio? O Alemão!!! Houve um tremendo de um alvoroço. Nunca vi nada igual. Parecia que todo o prédio estava a soçobrar. Correria para todos os lados, gritos, maquiagem e batom de última hora, celulares com disparadores de fotos em punho, e todas correram em direção às duas saídas do 7º andar.

Eu fiquei só, sem entender muito bem o ocorrido. E o caminhão aguardando as tais informações na entrada do centro de distribuição de uma grande rede de hipermercados. Passados intermináveis 20 minutos, elas retornam. O sorriso nos lábios denunciam que algo de bom havia acontecido lá embaixo. “Tiramos fotos do Alemão!”, disseram. E eu pensei: que raio de “Alemão” é esse? Seria o Michael Schumacher? Enquanto tentei identificar o tal personagem, elas trocaram as fotos tiradas pelos celulares, e violando o código de conduta da companhia, transferiram as imagens para seus desktops. Depois, enviaram rapidamente as fotos por e-mail sabe-se lá para quantas pessoas.

Trinta minutos se passaram. E o caminhão continuava aguardando. E não era só isso: Os vendedores tentaram confirmar alguns pedidos emitidos, e outros clientes pediram outras informações. O tempo parou por 30 minutos, uma área inteira parou por meia hora, e o caminhão ficou parado, bem como os vendedores e os clientes. Eu fiquei calculando o tamanho do prejuízo que a empresa estava tendo, só por causa do tal do “Alemão”.

Então eu não me contive: perguntei à garota que me deixou falando sozinho, o que havia acontecido, e ela, pasma, pergunta? Você não o conhece? Não acredito! Você só pode estar brincando! Eu me senti como um ser de outro planeta, que acabara de pousar na Terra. Quando ela me disse que era o principal personagem de um reality show, eu não me segurei: Toda essa revolução só por causa deste cara? Ela simplesmente me ignorou, voltando ao trabalho com um sorriso nos lábios. Elas pensando no Alemão e eu pensando no caminhão...

A popularidade do gênero

Bem, se eu já não gostava desses tipos de programas, a partir daquele dia eu passei a odiá-los. E passei a reparar como esse gênero de programa estava se popularizando.

É impressionante a quantidade de televisores que ficam ligados na “telinha” para assistir o “barraco” e torcer pelos seus participantes preferidos. Você pode ouvir os comentários sendo proferidos no ônibus, no metrô, dentro de elevadores, e até nos restaurantes. Palavras, como “eliminados”, “paredão”, “imunidade”, dentre outras, tornaram-se jargões comuns no diálogo do brasileiro.

E elas se multiplicam aos milhares. No canal aberto, a Globo exibe o BBB. Você troca de canal, e aparece “A Fazenda”. Então troca de novo e dá de cara com Solitários, Esquadrão da Moda, e Troca de Família. Quer mais baixaria? Tem o Buzão do Brasil. Sem contar aqueles que já se foram, como Casa dos Artistas, Casa dos Desesperados e No Limite. A tática é sempre a mesma: as pessoas devem sofrer (moral, psicológica e fisicamente) para tentar conquistar o prêmio. Discussões devem ocorrer com frequência, para manter o “nível” de audiência.

Não é a toa que as redes de TVs investem tanto em tipos de programas assim: eles simplesmente acharam a sua galinha dos ovos de ouro, pelo menos por enquanto. Índice de audiência nas alturas, este tipo de programa é o produto mais rentável das emissoras, com custo quinze vezes menor do que sustentar uma produção de telenovela. Só o programa A Fazenda, da TV Record, conquistou aproximadamente 111 milhões de reais!¹

Este tipo de besteirol não é privilégio dos canais abertos, infelizmente. Nas chamadas TVs por assinatura, eles também se multiplicam, como pragas sendo regadas a cada dia: Survivor, I Want a Famous Face, Cast Offs, Hell´s Kitchen e Troca de Tesouras.

Mas afinal, o que é reality show?

Ele foi criado originalmente por John de Mol e Joop van den Ende em 1999, na Holanda, e recebeu o título de "Big Brother". Eles pegaram esse termo do escritor George Orwell, em seu livro 1984, para designar um olho eletrônico que espionava as pessoas com o intuito de manter o domínio de um Estado totalitário sobre tudo e todos.

Trata-se de um confinamento de um grupo de voluntários, dispostos a serem filmados 24h por dia, sempre com a intervenção de um organizador, que também é o apresentador do programa. Durante esse período de confinamento, existem tarefas a serem realizadas e ocorre a eliminação dos participantes. O objetivo é fazer com que apenas uma pessoa consiga vencer, premiando o vencedor com muita fama e dinheiro. Existe ainda a interação com o telespectador, que, como um rei de Roma, elege quem continua participando e quem será eliminado.

O escritor Jean Baudrillard tinha razão, ao escrever em seu livro Big Brother: telemorfose e criação de poeira (Paris: Sens & Tonka, 2002), quando diz:

“O século XX presenciou toda a sorte de crimes: Auschwitz, Hiroshima e genocídios, mas o único e verdadeiro crime perfeito foi a queda do homem na banalidade, violência mortífera, que, justamente pela indiferença e pela monotonia, é a forma mais sutil de exterminação. Vivemos hoje numa sociedade que mistura todos em um imenso ser indivisível, em total promiscuidade. Em alguma parte, estamos de luto por essa realidade nua, essa existência residual, essa desilusão total. Há, nessa história do Big Brother, alguma coisa de um luto coletivo, mas que faz parte da solidariedade que une os criminosos que somos todos – os assassinos desse crime perpetrado contra a vida real e de cuja confissão nos esvaziamos na tela, que, de qualquer forma, nos serve de confessionário [o confessionário é um dos lugares do Big Brother]. Aí reside a nossa verdadeira corrupção, a corrupção mental, no consumo desse luto e dessa decepção, fonte de gozo contrariado. De qualquer maneira, entretanto, a desautorização dessa palhaçada experimental transparecia no tédio mortal que disseminava.”

A razão do sucesso


A professora Marília P. B. Millan, doutora em Psicanálise, explica:
“A aceleração de giro na produção e no consumo vem influenciando a forma de pensar e agir do indivíduo. Como consequência, presenciamos a crescente volatilidade e efemeridade de modas, produtos, ideias, valores e práticas sociais. O instantâneo e o descartável permeiam nossa experiência, desde os utensílios que empregamos no dia a dia até nossa maneira de pensar, viver e nos relacionar.”²

Ecléa Bosi, professora de Psicologia Social na Universidade de São Paulo, reforça:

“Vivemos hoje a alienação decorrente de um sistema econômico que incita ao consumo constante de objetos cada vez mais descartáveis, estabelece relações rápidas e descontínuas, e torna-se ‘embotadora da cognição, da simples observação do mundo, do conhecimento do outro’".³

Além do que, existe mais um ingrediente para a receita de sucesso: o brasileiro gosta de bisbilhotar a vida alheia. Essa foi a resposta dada por 52% das pessoas que participaram no site da revista Veja.

O BBB e você

Mas, e quanto a nós, cristãos? O que devemos fazer com produtos como esses? Será que existe algo de bom que possamos reter? Não deveríamos encarar apenas como simples entretenimento?

Deixemos que a escritora inspirada Ellen G. White nos responda:
“É lei, tanto da natureza intelectual como da espiritual, que, pela contemplação, nos transformamos. O espírito gradualmente se adapta aos assuntos com os quais lhe é permitido ocupar-se. Identifica-se com aquilo que está acostumado a amar e reverenciar” (O Grande Conflito, pág. 555).

E, finalmente, consultemos a Palavra de Deus:

“Se vós fósseis do mundo, o mundo amaria o que era seu, mas porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo” (Jo 15:19).

“Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte” (Mt 5:14).

“Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo” (1Jo 2:16).

“Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiai.” (Ef 6:12).
Bem, amigos, nós também estamos sendo observados a cada instante: pelos nossos semelhantes, pelos anjos, mundos não caídos e pelo próprio Deus. E como diz Paulo, "Porque tenho para mim que Deus a nós, apóstolos, nos pôs por últimos, como condenados à morte; pois somos feitos espetáculo ao mundo, aos anjos e aos homens" (1Co 4:9).

Não existe nada mais “reality” do que isto.

Por Nei Matsumoto, analista de sistemas da CPB - http://www.cpb.com.br/
(nei.matsumoto@cpb.com.br)

Notas

¹http://veja.abril.com.br/especiais_online/reality-shows/atracao.shtml

² MILLAN, M.P.B. Tempo e Subjetividade no Mundo Contemporâneo - Ressonâncias na Clínica Psicanalítica. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2000.

³ BOSI, E. O Tempo Vivo da Memória. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003.

http://veja.abril.com.br/noticia/variedades/brasileira-participa-1o-reality-show-exclusivo-web-531445.shtml

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Vida sem valor

O assassinato de seis pessoas em um supermercado dos Estados Unidos, no oitavo dia do ano de 2011, é sintoma e não causa.

Já sentiu dor de cabeça e, depois de um tempo, tomou um copo d´água ou mesmo repousou por um tempo e a dor diminuiu ou até cessou? Pois é. A dor de cabeça, muitas vezes, é apenas o sintoma de algo que precisa ser sanado para que pare. Esse tipo de crime, que já teve na história norte-americana vários paralelos, revelou como uma das vítimas uma criança de apenas nove anos de idade. E o atirador suspeito, segundo a Polícia, possui 22 anos de idade. Sim, estou falando de gente com nove e 22 anos de idade. Nem chegaram a três décadas de vida e estão mortos.

E se você se sente motivado a criticar os Estados Unidos por causa disso e simplesmente considerar que se trata de algo pontual, acompanhe primeiro alguns recentes números no Brasil. Há poucos dias, um relatório da Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana (Ritla) mostrou que o índice de assassinatos no país é alto. Dizem os dados que, entre 1996 e 2006, o número de assassinatos no Brasil, cresceu mais que a população. Os homicídios tiveram aumento de 20%, enquanto o crescimento populacional foi de 16,3%. O Rio de Janeiro é a cidade brasileira com maior número absoluto de assassinatos de jovens entre 15 a 24 anos, segundo o Mapa da Violência dos Municípios Brasileiros.

Retomando a minha primeira afirmação, relembro que, por trás desses números, há uma causa. As mortes infelizmente são apenas o sintoma de um problema maior. E o fato de envolverem, cada vez mais, jovens, é mais sintomático ainda. Por que as pessoas estão se matando mais, de forma mais cruel, e tão cedo?

Há várias explicações sociológicas para tudo isso e são válidas, mas eu ainda penso que a raiz é mais profunda. No Brasil, conforme esta mesma Rede, a maioria das mortes de jovens eram atribuídas, em 2008, a acidentes de trânsito e uso de armas de fogo. Está aí um conjunto de respostas plausível: imprudência ao dirigir, embriaguez, uso de drogas, facilidade para adquirir armas ilegalmente, etc. Essas razões provavelmente são as mesmas ainda. Mas pode haver algo mais profundo do que isso? Eu entendo que sim!

Raiz profunda 

Talvez a raiz que apresente esses lamentáveis sintomas, se buscada com honestidade, evidencie que a vida não tem muito mais valor para grande parte dos jovens. A vida passou a ser desperdiçada em um veículo em alta velocidade conduzido por um cidadão com menos de 20 anos bêbado ou drogado ou, então, em uma troca de tiros por causa de dívidas associadas ao tráfico de cocaína, crack, maconha, ecstasy, ou seja, qual for a porcaria química pela qual se mate hoje. O cerne da questão está na atribuição de valor à vida. Se ela não tem muita importância, qual o problema em perdê-la ou tirá-la repentinamente? O raciocínio é autodestrutivo, mas acontece. Questiono a eficácia completa de amplas campanhas sobre consciência no trânsito ou mesmo a erradicação de armas de fogo. Não estou dizendo que não devam ser realizadas e nem apoiadas pela população, mas seu êxito é questionável.

A vida perde o valor para um jovem, adulto ou idoso por alguns motivos. Se tomarmos os escritos de quaisquer filósofos antigos ou modernos, todos dirão, de uma maneira ou outra, que a vida precisa ter algum sentido para ser relevante. O problema é que alguns sentidos dados à vida humana se dissipam rapidamente.

O que dá valor à vida

Faltam exemplos dignos para os jovens seguirem hoje. Os ídolos populares do presente são, na maioria das vezes, os desajustados, desequilibrados, violentos, indecentes, imorais e irresponsáveis. Na versão bíblica Almeida Revista e Atualizada, o apóstolo Paulo, na carta ao jovem pastor Tito, capítulo 2 e versículo 7, aconselha que “torna-te, pessoalmente, padrão de boas obras”. O que age corretamente precisa voltar a ser referência para quem é jovem e precisa tomar decisões importantes.

Falta comprometimento com algo maior em nossos dias. A vida começa a perder o valor quando tudo é considerado irrelevante, descartável, fugaz. É comum ver gente que chega a um escritório, em busca de emprego, dizendo que vai se empenhar totalmente na nova atividade. Na primeira semana, começam as reclamações sobre o salário, as condições de trabalho, o humor do chefe, a temperatura, a distância, etc, até que pede demissão. O comprometimento espiritual, diante de Deus, é fundamental para uma vida com sentido. Jesus destacou essa necessidade de conexão com Ele constantemente, conforme o evangelho de João, capítulo 15, versículo 5, onde Ele ensina que “eu sou a videira, vocês são os ramos. Se alguém permanece em mim, e eu nele, esse dá muito fruto, sem mim, nada podeis fazer”. O verbo permanecer precisa voltar a ser usado.

Finalmente, falta esperança para que jovens ou pessoas em outras faixas etárias entendam que sua vida vale muito mais do que pensam. Se considerarmos que tudo o que se pode obter, como seres humanos, é somente aqui e agora, então a vida pode perder rapidamente a importância. Há dois textos bíblicos que se completam sobre isso e merecem servir de reflexão. Na carta aos romanos, capítulo 8 e verso 25, o apóstolo Paulo deixou registrado que “mas, se esperamos o que não vemos, com paciência o aguardamos”. E, na primeira carta aos coríntios, no capítulo 15 onde ele descreve acerca da ressurreição, o verso 19 é verdadeiramente alentador e diz que “Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens”.

Este mundo, em si, não oferece esperança, mas o mundo vindouro, espiritual, prometido por Jesus Cristo e demonstrado na prática quando aqui viveu, é algo mais real do que se pode imaginar. Funciona, muito bem, como um antídoto ao mal que mata tanta gente no mundo: a vida sem sentido.

Felipe Lemos, jornalista (http://www.felipelemos.com/) - @felipelemos29

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Tuitaços: como tudo começou

Em 2010, os tuiteiros adventistas conseguiram tornar algumas hastags religiosas as mais comentadas do microblog. Saiba como a ideia nasceu

Ele tem nome de cantor adventista, mas a praia dele é a área de novas tecnologias. Robson Fonseca (@robsonfonck), 21 anos, é aluno de Jornalismo do Unasp. Nascido em lar adventista, Robson coordena a equipe de produção do blog A+ (www.unasp-ec.edu.br/amais) e das redes sociais do Unasp (@unaspec). Porém, nunca tinha usado a internet para falar sobre sua fé, até pensar em divulgar a hastag #setimodia, fazendo alusão a crença da guarda do sábado. Depois dessa mobilização, pelo menos mais três tuitaços com temas doutrinários aconteceram em 2010: volta de Jesus, mortalidade da alma e a esperança da ressurreição (Dia de Finados), e a existência de Deus. Que venham os tuitaços de 2011!

Conexão JA: Como e quando surgiu a ideia do tuitaço?
Robson: A ideia surgiu há algum tempo, mas sem muita pretensão. É comum, durante os sábados, os adventistas usuários do Twitter escreverem mensagens com a hastag #SetimoDia. Então, num fim de semana antes do tuitaço, propus aos seguidores do perfil @UNASPec fazer uma mobilização para colocar a hastag #SetimoDia entre os assuntos mais comentados. Como muitas pessoas aderiram à ideia, marcamos o tuitaço para a semana seguinte, dias 6 (sexta) e 7 de agosto (sábado). Assim, durante uma semana, divulgamos no Twitter a ação e muitos se empolgaram bastante com a ideia.

Conexão JA: Qual foi o resultado?
Robson: Pelo que sei, aquela foi a primeira vez que jovens adventistas se mobilizaram para fazer uma ação de evangelismo em massa pela internet. E deu super certo. Só naquele tuitaço, conseguimos a participação de mais de 1.200 usuários que enviaram mais de 24 mil mensagens. Esses jovens se sentiram motivados a falar sobre o que acreditam e mais ainda, sentiram orgulhoso de ser adventista do sétimo dia.

Conexão JA: Que possibilidades evangelísticas você enxerga na internet, especialmente no Twitter?
Robson: A internet possui uma grande vantagem que é a de atingir milhares de pessoas sem que elas saiam de suas casas. Ela vai a lugares onde nem podemos imaginar. Ou seja, é uma ferramenta que temos nas mãos para fazer uso como quisermos, basta querer. Ainda mais o Twitter, que é a rede social do momento, em que temos acesso fácil a muitas pessoas. Por exemplo, durante o tuitaço, muitos enviaram mensagens sobre o sábado para pessoas famosas, algo que seria impossível de se ser fazer pessoalmente. Além disso, o Twitter tem o poder de espalhar conteúdo de uma forma muito fácil e rápida. Se uma pessoa escreve uma mensagem para ser lida pelos seus meros 100 seguidores, essa pode ser retransmitida (RT) por um deles para os seus respectivos seguidores, e assim vai. Dessa forma, se cria um efeito em cadeia, atingindo um número incalculável de pessoas.

Conexão JA: Que dicas você daria para o bom uso dessa ferramenta?
Robson: O Twitter é uma rede de conteúdo. Sendo assim, as pessoas se conectam pelo conteúdo que as outras podem lhe oferecer. E é isso que faz com que os usuários sigam uns aos outros. Logo, quem te segue, já está interessado no que você tem a dizer. Por isso, essa é uma grande oportunidade de falar sobre as coisas que você acredita. Enquanto milhares de pessoas estão comentando sobre artistas, programas de televisão, políticos e outras coisas, os jovens adventistas podem fazer a diferença e escrever mensagens de esperança.

Conexão JA: Que tipo de feedback vocês do Unasp receberam do tuitaço?
Robson: Quem participou se sentiu muito realizado em fazer parte de uma ação inovadora como essa. Algumas instituições da igreja apoiaram o projeto e também nos parabenizaram pela ideia. Durante o tuitaço, diversas pessoas manifestaram dúvidas sobre o sábado e se mostraram interessadas sobre o assunto. Pude responder algumas questões para os usuários. Além disso, vários usuários acessaram o site http://www.sabado.org/ e leram materiais sobre o tema. O real resultado da campanha talvez nunca saberemos agora, apenas na eternidade. E isso só nos motiva a procurar sempre fazer coisas novas e buscar formas diferentes de falar sobre o amor de Deus.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Sobre a Rocha

O homem cria deuses sob a pele de mortais. Um dia, os endeusados morrem e um silêncio paira sobre a farsa, sem que as cortinas se fechem. Novas plateias haverão de criar novos astros, se esquecendo de que nem mesmo as estrelas durarão para sempre

O diário de uma louca (2005) é um dos filmes mais bonitos que já assisti. A produção, dirigida por Darren Grant, conta a história de uma mulher que, após 18 anos de casamento, é expulsa de casa pelo marido e tenta reconstruir sua vida ao lado das pessoas que realmente a amam.

O filme aborda temas importantes do cristianismo, como o perdão e o amor. Porém, o que mais chamou minha atenção foi como damos importância às coisas terrenas. Uma das cenas mais bonitas mostrou Hellen, a personagem principal, chorando triste ao lado da mãe, após dizer que havia dedicado toda a vida ao homem que a havia desprezado. A mãe, por sua vez, responde de uma forma que nos faz pensar na seguinte questão: “Tenho amado a Deus sobre todas as coisas e de todo o meu coração, como Jesus pediu?”

Quando assisti a essa conversa, me dei conta do quão importante é colocar o Pai eterno em primeiro lugar. Até imaginei o olhar de Cristo quando Ele escuta casais apaixonados dizerem, ao som de músicas românticas, coisas do tipo “Você é meu tudo!”, “Você é a razão da minha vida!”, “Não sei viver sem você!”. Logo, me veio à mente, a imagem de um Deus cabisbaixo, se perguntando: “Mas, e eu?”.

Pensando em algumas ações e suas conseqüências, me dei conta de que Deus sabe que a dedicação do homem a qualquer ser que não seja Ele, resulta em sofrimento para a humanidade. O seu emprego pode não ser mais seu amanhã. A sua namorada pode te deixar a qualquer momento. O seu namorado pode te trair com a sua irmã. O seu melhor amigo pode se casar e não te dar mais tanta atenção como antes. Mas, seu Deus sempre estará ao seu lado e de braços abertos para você.

A dupla sertaneja, um dia, cai no anonimato. A banda do momento, um dia, sai de moda. O rosto pop impresso nas camisetas, um dia, se torna “clichê” demais. E o que você fará para preencher tanto vazio se tiver colocado essas coisas em primeiro plano? É por isso que Deus pede para você se entregar a Ele, e que isso não seja visto como algo humilhante. Deus não nos pede dedicação como sinal de arrogância ou posse, mas de amor. Ele deseja que construamos nossa casa sobre a Rocha firme, sobre algo que jamais caia, sobre um amor que não tem fim.

Hellen alicerçou sua vida no amor que sentia pelo marido. O marido a deixou e, assim, sua vida desabou. Só então ela percebeu quão inconstantes podem ser as expectativas temporais. Isso tudo me fez lembrar da história de Jó. Satanás tirou dele todos os bens, seus filhos e até mesmo sua saúde. Imaginem se a esperança daquele homem estivesse baseada em algum destes elementos terrenos! Ele não suportaria as provações do mal. A casa de Jó desabaria em pouco tempo. Mas, ele estava ao lado de um Deus soberano e o amor Dele era a base de sua vida, por isso, Jó foi forte para superar até seus limites.

Se sua casa estiver sobre Rocha (At 4:11), os bandidos poderão entrar, arrancar suas janelas e quebrar suas telhas, mas sua morada não cairá. Quanta segurança, não é mesmo? Deus deseja nos dar Seu amor infinito, por que, às vezes, nos contentamos com tão pouco?

Por Lívia da Silva Inácio, leitora da Conexão JA, estudante de jornalismo e editora do blog http://www.letrinhasdispersas.blogspot.com/

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Daniel, Babilônia e a arqueologia

As relações obscuras entre os cativos judeus na corte babilônica nem sempre são compreendidas. Diante disso, alguns mitos se formaram em torno da vida do profeta bíblico Daniel e seus companheiros. Sob o ponto de vista da arqueologia, o doutor Rodrigo Silva, professor do Unasp e pesquisador, analisa as entrelinhas desse período de transição na história de Judá, em entrevista concedida ao jornalista e professor Ruben Holdorf.

Conexão JA: Apenas Daniel, Hananias, Misael e Azarias chegaram à condição de servidores "judeus" no palácio de Nabucodonosor ou eles se destacaram, diante de outros cativos, pela fidelidade ímpar?
Rodrigo Silva: Eu particularmente creio que houve outros judeus. Veja, Nabucodonosor invadiu três vezes Jerusalém. Na primeira, em 605 a.C. (na qual foram levados alguns jovens judeus para a Babilônia, talvez outros além de Daniel e seus companheiros, jovens escolhidos a dedo), ele levou os objetos do templo. Na segunda, ele voltou irado porque Jeoaquim havia se aliado ao Egito. Isso foi em 597 a.C. Nessa oportunidade, ele levou outros utensílios do templo e cerca de dez mil cativos – não só jovens, escolhidos a dedo como na primeira leva – mas gente o trabalho escravo. Na terceira, em 586 a.C., ele destruiu a cidade e o templo. Por isso, creio que o destaque de Daniel e de seus amigos se deu por causa da fidelidade deles.

Conexão JA: Qual era o parâmetro de ciência exigido por Nabucodonosor diante da erudição de Daniel e de seus amigos? Em que fontes eles se abasteciam?
Rodrigo: Nas escolas da Caldeia se ensinava literatura babilônica, o que exigia dos alunos que aprendessem acadiano (língua local) e aramaico (língua da diplomacia internacional). Eles também tinham de aprender técnicas de magia (daí a presença dos magos). O termo “caldeu”, quando usado de maneira técnica, se refere ao decifrador de mapas astronômicos, tanto para fins de astronomia, quanto para fins de previsão astrológica. Então, tinham que estudar isso também.

Conexão JA: No fim dos 70 anos de cativeiro na Babilônia, por que Daniel não voltou para Jerusalém com os cativos?
Rodrigo: Tudo indica que ele permaneceu no reino de Dario. Talvez por conta própria ou por estar muito velho. Seus parentes já estavam mortos. Ele não os conhecia mais. Não havia laços de parentesco fora da Babilônia. Era mais seguro para um velho como ele ficar ali.

Conexão JA: Apesar da notória fama de Daniel e da superioridade em sabedoria, os magos e encantadores se apresentaram primeiro diante de Nabucodonosor para tentar desvendar seu sonho. Teriam eles omitido o caso a Daniel e seus amigos com a intenção de conseguir o favor do rei?
Rodrigo: É que Daniel ainda não era, nessa época, do grupo de elite dos magos ou astrônomos do rei. Era um aprendiz. Como um brilhante aluno de Jornalismo que ainda não faz parte da chefia de um jornal, mas que por erros dos "mais experientes" acaba “pagando o pato”, como se o governo - devido a algum problema com jornalistas formados – aprovasse um decreto que negasse a todo jornalista o direito de regulamentação da profissão. Foi o que aconteceu com Daniel.

Conexão JA: Se o rei conhecia as diferenças entre Daniel, seus amigos e os caldeus, por que insistiu com eles na possibilidade de interpretação do sonho e por que decretou a morte de todos, inclusive dos judeus?
Rodrigo: Soberanos têm memória curta para certas coisas. Daniel, a princípio, foi só um jovem inteligente, nada mais que isso. O Sílvio Santos pode ficar impressionado com a inteligência de um aluno de Jornalismo que conseguiu entrevistá-lo rapidamente para um trabalho de faculdade. Mas isso não garante que se lembrará dele daqui a dois anos. Foi apenas uma entrevista de poucos minutos. Não ficou na memória de um homem que lida com gente diferente todos os dias.

Conexão JA: O fato de eles estruturarem as primeiras casas bancárias auxiliou na mudança de visão por parte dos babilônios e outros povos? A permanência de muitos na Babilônia depois de cumpridos os 70 anos de cativeiro, inclusive de Daniel, reforça a tese de que a situação se reverteu em favor dos judeus?
Rodrigo: Sim, a situação se reverteu com o tempo. Os judeus se destacaram com o comércio. Como, aliás, aconteceu também quando foram para a Europa, e mesmo depois do holocausto nazista. Prova disso, é que Nova York é quase toda deles. Não estou seguro de que os judeus fundaram os primeiros bancos. Já ouvi isso, mas nunca encontrei uma sólida confirmação histórica ou arqueológica. Ademais, a moeda foi inventada pelos gregos no oitavo ou sétimo século antes de Cristo. Logo, não sei se nessa época o uso de moedas era corrente em Babilônia.

Conexão JA: Em casos de invasão relatados nos anais da História, os dominadores buscavam eliminar seus oponentes, principalmente as lideranças. Como explicar a permanência de Daniel em uma corte invasora e ainda exercendo uma relevante função?
Rodrigo: Nem sempre os dominadores matavam as lideranças. Jeoaquim foi mantido por Nabucodonosor com uma pensão vitalícia. Ademais, Daniel era de sangue real, mas não era para ser "rei" de Judá. Era um jovem inteligente e esses eram aproveitados. No Egito, temos relatos de que não-egípcios trabalharam como funcionários de alto escalão de faraó.

Conexão JA: Daniel mudou seu regime alimentar com o passar do tempo? Como explicar as diferenças entre sua decisão de não se contaminar com as iguarias reais, expressa no capítulo 1, o verso 3 do capítulo 10 e as obrigações rituais da religião naquilo que se refere ao uso da carne? Este verso se concilia com os versos 5 e 6 do capítulo 9, ou se trata de uma informação advinda de outro contexto?
Rodrigo: Não creio, para começo, que Daniel fosse vegetariano. Ele não comeu da carne do rei por uma questão ritual. No hebraico, existem verbos que só admitem Deus como sujeito. Nós não temos isso em português. Por exemplo, o verbo bará (criar) só admite Deus como sujeito e mais ninguém. De igual modo, o verbo wayeman (determinou-lhes) também não admite outro sujeito senão Deus, mas aqui ele aparece tendo, estranhamente, o rei como sujeito. "E determinou-lhes Nabucodonosor" a comida. Ora, no Éden foi Deus quem determinou o que o homem ia comer. Por isso, Daniel repete o cardápio do Éden, para mostrar que não se submeteria às exigências do rei.

Por Ruben Holdorf, jornalista e professor de Comunicação Social no Unasp, campus Engenheiro Coelho, SP (dargan_holdorf@hotmail.com)

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Pescar com a rede

Líder dos jovens adventistas sul-americanos fala sobre as ênfases do seu ministério para 2011. O uso evangelístico da internet e ações específicas para os universitários são algumas prioridades

Paranaense da cidade de Castro, o pastor Areli Barbosa tem 46 anos e há 14 anos atua como líder de jovens. Em julho do ano passado, em Atlanta, Estados Unidos, ele foi eleito para liderar o ministério jovem em nível sul-americano. É casado com a professora Joci com quem tem duas filhas: Raissa (17) e Milena (15). Nesta entrevista, o pastor Areli explica que ênfase pretende dar ao ministério jovem em 2011 e nos próximos cinco anos. O plano é valorizar o evangelismo pela internet, as mídias da igreja voltadas para os jovens e também dar suporte aos universitários.

Conexão JA: Por que optou trabalhar no ministério jovem?
Areli: Quando estava em Minas Gerais, em 1997, fui nomeado diretor do ministério jovem. Neste momento, entendi que a Igreja queria que eu dedicasse mais tempo para o trabalho com a juventude. O pastor não deve escolher no que irá trabalhar, mas colocar a vida nas mãos de Deus e fazer o que a Igreja pede. Esta é uma das leis dos desbravadores: “ir aonde Deus mandar”. Sinto-me um homem privilegiado e quero me colocar nas mãos de Deus para ser útil.

Conexão JA: Hoje, trabalhar com internet com os jovens é um caminho sem volta?
Areli: A internet é uma ferramenta fantástica e se bem direcionada pode ser uma bênção. Ao realizar os dois congressos de evangelismo online pela web, tinha dois objetivos: levar a juventude a santificar as horas do sábado, mesmo usando a internet (os congressos foram realizados na sexta à noite) e desafiar a juventude a pregar pela web. Ao realizar os eventos, pude descobrir algumas coisas:

(1) A ação pela internet dá um retorno muito rápido. Tivemos casos na programação em que jovens mandaram um folheto missionário virtual e o amigo internauta que recebeu, respondeu agradecido logo em seguida;
(2) A juventude se envolveu acima do esperado. Isso mostra que eles querem que a igreja assuma a responsabilidade de liderar os projetos que eles irão seguir;
(3) Alcançamos nestes dois eventos mais de 100 mil pessoas de forma direta e indireta, em 28 países;
(4) Há um potencial na internet que deve ser explorado, por não ter a barreira do país ou da etnia. A rede alcança a todos;
(5) A ação na internet pode ser duradoura, como o site http://www.esperancaweb.org.br/, que é atualizado constantemente.

Com certeza, a internet bem direcionada é um caminho sem volta, e nos próximos anos estaremos envolvendo com mais intensidade a juventude no uso da rede para pregar o evangelho.
Conexão JA: De que maneira você pretende apoiar as publicações e programas de rádio e de TV voltados para os jovens?
Areli: A igreja tem hoje o grande privilégio de ter uma rede de televisão e rádio. Temos visto como nosso sistema de comunicação tem se tornado de alta qualidade mesmo com os desafios financeiros. A TV Novo Tempo (http://www.novotempo.org.br/) tem uma programação que não precisa de censura, porque é livre para todos os públicos. Isto também nos ensina que o que é próprio para assistir, é aquilo que pode reunir toda a família. Outro ponto importante é a literatura. O que ler? A Casa Publicadora Brasileira (http://www.cpb.com.br/) tem lançado materiais de muita qualidade. E creio que a juventude deveria explorar mais esses materiais. Li recentemente o livro Ainda que caiam os céus, uma história inspiradora de fé de um pastor que viveu na Rússia no auge do regime comunista. Mas a juventude não pode se esquecer do seu periódico: a Conexão JA. Eu participei do nascimento dessa revista. Ela supriu uma lacuna deixada pelo fim da revista Mocidade. O objetivo da Igreja para esta revista é que ela apóie o jovem adventista pré-universitário e universitário a viver as doutrinas e princípios.
Conexão JA: Para este ano, está prevista uma ênfase especial nos universitários adventistas. O que você pensa fazer em favor desse segmento emergente no Brasil?
Areli: Teremos um concurso bíblico voltado para os universitários e a final será na Universidade Adventista do Peru. O concurso Bom de Bíblia tem como principal objetivo levar a igreja a ler mais a Palavra de Deus. A Bíblia deve fazer parte da rotina das pessoas porque ela é a voz de Deus a nos orientar, em especial os jovens. Dos 17 aos 24 anos, os jovens, em geral, tomam as duas decisões mais importantes da vida: que profissão segui e com quem vai se casar. Nesta hora, a Bíblia é “lâmpada para os pés e luz para os caminhos”. Além disso, vamos incentivar a formação de associações de universitários, para ajudar os jovens nos seus desafios acadêmicos.

Conexão JA: Quais serão as marcas do seu trabalho pelos próximos cinco anos como líder dos jovens adventistas sul-americanos?
Areli: Quero que cada vez mais a juventude tenha responsabilidade missionária, envolvimento e carinho por sua igreja local, com uma vida de respeito e reverência para com os princípios, pais e líderes. Desejo que a juventude me veja como um pregador da Bíblia, apoiador dos projetos da Igreja e incentivador da missão. Quando olho para a juventude, penso nas minhas duas filhas, por isso, quero ser um conselheiro e apoiador dos jovens e liderá-los para a vida eterna.

Por Wendel Lima