terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Quando a brincadeira vira evangelismo

Ele representa o perfil de uma geração que preza pela informalidade, humor, entretenimento e não desgruda da internet. Diego Barreto, pastor auxiliar da Igreja da Alvorada, em São Paulo, congregação marcada pela presença de muitos jovens, é um dos mentores do BibleCast (http://www.confissoespastorais.com.br/). Seu podcast semanal sobre teologia e cristianismo tem sido baixado por até 10 mil pessoas. A ideia é simples, por isso se tornou viral. É gravar uma conversa informal por telefone com o amigo e pastor José Rodrigues Júnior, que trate com bom humor e autenticidade de temas profundos, ligados ao sentido da vida. Apesar do formato descontraído, uma das razões do sucesso do programa, Diego garante que o objetivo é diminuir a distância que existe entre a teologia acadêmica e a compreensão que a igreja tem sobre Deus. Nesta entrevista, Diego (ao lado do astronauta Marcos Pontes na Campus Party 2011) fala sobre como surgiu a ideia e os resultados evangelísticos da iniciativa.

Conexão JA: Como surgiu e o que é o BibleCast?
Diego: Surgiu de conversas à mesa, caminhando pelo campus do Unasp Engenheiro Coelho e de conversas telefônicas. O pastor José Rodrigues Júnior e eu conversamos com frequencia por telefone sobre assuntos teológicos e sobre questões relacionadas ao cristianismo. É tipo um hobby, que vem desde a época do curso teológico. Eram conversas que nos ajudavam muito a crescer no entendimento da religião verdadeira. Na virada de 2009 para 2010, decidimos transformar nossas conversas telefônicas em programas de áudio para publicar na internet. Acreditamos que há uma distância muito grande entre o que diz a teologia adventista e no que acreditam os membros e pastores. Com o BibleCast, a gente pretende diminuir esse abismo.


Conexão JA: Como tem sido os acessos e como vocês têm medido o sucesso da iniciativa?
Diego: Começamos o primeiro programa com 15 downloads. Eram amigos nossos que ficaram sabendo da iniciativa e tiveram coragem de ouvir o primeiro programa. Daí veio o crescimento natural e, hoje, quando lançamos um programa novo, às sexta-feiras, mais de mil pessoas o escutam imediatamente. E durante a semana seguinte os downloads variam de 6 mil a 10 mil.

Conexão JA: Como a ferramenta tem se mostrado útil para o evangelismo?
Diego: Através dos programas, os usuários têm tido a oportunidade de quebrar preconceitos a respeito do adventismo, renovar sua fé, fortalecer suas convicções e até voltar pra igreja. Recebemos e-mails toda semana e temos testemunhos de pessoas que foram rebatizadas e até de pessoas que dizem ter se batizado por influência do BibleCast. Mas não é só isso, temos muitos fiéis de outras denominações que escutam e divulgam o programa.
Outro fator importante da iniciativa é usar o formato podcast. Essa ferramenta extraordinária é perfeita para nosso trabalho evangelístico. Por ser um programa de áudio "portável", as pessoas o compartilham. Gravam o podcast em CDs e o levam para quem não tem internet banda larga. Outros ouvem o programa no carro, no celular, no IPod, no MP3 player, enquanto estão no trânsito. Ouvir músicas é muito bom, mas dedicar um tempinho por semana pra aprender mais é viciante. Essa é a beleza desse formato!

Conexão JA: Quais são os cuidados que vocês têm na escolha dos temas e no uso da linguagem para tornar o conteúdo mais inclusivo?
Diego: Costumamos escolher temas que podem ser apreciados pela audiência regular, ou seja, na medida em que certas coisas são reveladas vamos partindo para outras mais profundas e complicadas. Escolhemos sempre temas diferentes com abordagens novas. Lutamos para fazer programas originais. Mesmo que seja um assunto comum (o que é raro), nossa abordagem sempre será inédita, pelo menos para uma audiência leiga.
Outro cuidado importante que tomamos é com a linguagem. O programa surgiu de conversas informais e precisa manter esse formato. Portanto, quanto mais natural melhor. Por isso, cedo ou tarde risadas e gargalhadas acabam escapando, mas a seriedade nunca. Acreditamos também que essa naturalidade e informalidade garantem a audiência dos jovens. Eles não querem ouvir vozes “institucionais” (modeladas e impostas), eles querem conversar, entrar na conversa, e a informalidade é a chave para essa inclusão.

Conexão JA: Usar o humor para falar de coisas sérias é uma tendência no jornalismo. Optar por esse estilo foi algo ligado à personalidade de vocês ou foi baseado nas tendências?
Diego: Com certeza tem a ver com nossa personalidade. Até porque eu acredito que essa seja uma marca da minha geração, antes de ser uma tendência do jornalismo de hoje. A minha geração é formada por pessoas que prezam demais, muito mais do que eu gostaria até, pelo humor, pelo entretenimento e pela informalidade. E nós somos assim. Por isso, decidimos naturalmente por esse estilo, até porque muito antes de existir CQC nós já conversávamos assim no curso de teologia.

Conexão JA: Vocês já têm testemunhos de bons contatos missionários?
Diego: Sim, graças a Deus. Fizemos contato com Alexandre Ottoni (do site http://www.jovemnerd.com.br/), com Eduardo Spohr (autor do livro A Batalha do Apocalipse) e com Maurício Saldanha (crítico de cinema). Outros contatos são de pessoas que nos escrevem, por exemplo, como um jovem de Portugal, que estava afastado da igreja e disse ter reencontrado a fé através da linguagem moderna do BibleCast. Ele tem usado a ferramenta para evangelizar a esposa, que não é cristã

Conexão JA: Como vocês escolhem os temas dos podcasts?
Diego: São os assuntos que mais gostamos de falar entre nós. Flui naturalmente. Nossas conversas evoluem na medida em que vamos aprendendo e vivendo: “A boca fala do que está cheio o coração.” Pensamos no que queremos falar e avaliamos se combina com nosso contexto atual. Por exemplo, grandes acontecimentos, como a invasão do morro do Alemão e as enchentes na região serrana do Rio não podem ser ignoradas.

Conexão JA: Você acredita que a internet hoje é uma ferramenta indispensável para o pastor ter acesso às suas ovelhas mais jovens e para que seu ministério vá além dos muros da igreja?
Diego: Sem sombra de dúvida. Vejo isso pela minha geração pós-moderna, acessa mais internet do que vê televisão. Até os filmes estão perdendo espaço para o acesso a internet. Das 6.800 pessoas que vi na Campus Party 2011, posso contar nos dedos da mão quem estava lá pra ver filmes. Pense no seguinte, os juvenis de 11 a 14 anos e os adolescentes de 15 a 19 anos não saem mais da internet. Esse é o novo mundo deles. Qualquer coisa que você precisar dizer a eles, terá que passar pela internet.
Se o pastor quer ser ouvido pelos jovens, precisa conhecer o mundo deles. Não é preciso se sujar na lama pra entender esse mundo, e é possível entrar nele sem perder os princípios. Somos a luz do mundo, por isso nosso lugar é no mundo. Não como parte dele, mas como solução para ele. O remédio só fará efeito se for lançado numa corrente sanguínea infectada. Por isso, pastores de jovens, pulem na rede!


Conexão JA: Como foi a experiência de participar da Campus Party 2011?
Diego: Foi minha primeira vez. Achei a experiência extraordinária, muito acima das minhas expectativas. Quase não fiquei na internet, porque aproveitei a maior parte do tempo para divulgar o BibleCast e gravar programas ao vivo de lá.
Também assisti às palestras sobre mídias sociais. Aprendi muito sobre técnicas de como lidar com pessoas na internet e sobre o comportamento dos usuários. Mas o mais interessante sobre os contatos com as celebridades da web foi surpreender a todos quando dizia que era pastor. Eles se surpreenderam e eu também pelas amizades que pude construir. Preconceitos foram quebrados e até fomos convidados para participar no maior podcast do Brasil (o Nerdcast do site http://www.jovemnerd.com.br/). Advinha, para quê? Falar sobre Deus!

Por Wendel Lima, editor (conexaoja@cpb.com.br)